sexta-feira, 23 de março de 2012

Biocélulas a Combustível

A procura por novas fontes de energia elétrica vem da necessidade de suprir a demanda que com o passar dos anos se torna cada vez maior na sociedade moderna. A energia produzida a partir de combustíveis fósseis, como o petróleo e gases naturais, não são renováveis. No entanto, elas são as mais comuns e são consideradas a chave para o progresso contínuo da população. Com o aumento crescente da demanda energética, torna-se grande a preocupação da humanidade na busca por fontes renováveis e que, ao mesmo tempo, não prejudiquem o meio ambiente. Nos últimos quarenta anos, as células a combustíveis foram consideradas uma tecnologia alternativa na produção de energia limpa. Esses dispositivos eletroquímicos são utilizados para a produção de energia elétrica a partir de reações químicas que ocorrem em um compartimento denominado de cela ou célula eletroquímica. No entanto, recentes estudos têm demonstrado a utilização de compostos biológicos em células a combustível, gerando uma nova classe de dispositivo denominada biocélulas a combustível.
O estudo de reações que ocorrem em sistemas biológicos ganharam atenção especial por volta do ano de 1780 quando o cientista Luigi Galvani demonstrou que as pernas de uma rã contraiam com a aplicação de uma energia elétrica oriunda de um gerador de eletricidade estática. Esse experimento pioneiro mostrava a potencialidade na integração eletricidade - organismos biológicos. As biocélulas a combustíveis (do inglês biofuel cells) utilizam componentes de origem biológica para a produção de energia elétrica. Assim, as biocélulas a combustíveis são subdivididas em duas classes: as biocélulas a combustíveis enzimáticas e as biocélulas a combustíveis microbiológicas. Como o próprio nome sugere, as biocélulas a combustíveis enzimáticas utilizam as enzimas que são catalisadores biológicos para a produção de energia utilizando um substrato (combustível, por exemplo glicose) como reagente específico para tal. Por outro lado, as biocélulas a combustíveis microbiológicas utilizam microorganismos como leveduras, bactérias e outros microrganismos. Apesar de esses sistemas eletroquímicos utilizarem combustíveis renováveis para a produção de energia elétrica (como por exemplo, a molécula de glicose), a potência produzida ainda é muito baixa comparativamente a potência gerada por células a combustíveis convencionais, o que as torna necessário muita pesquisa nos dias de hoje para fins práticos.

Biocélula de Glicose/Ar desenvolvida no Laboratório de Bioeletroquímica

Com a nanociência e nanotecnologia, o maior desafio está na procura por novos materiais aplicáveis em biocélulas a combustíveis para um maior aproveitamento da energia produzida por esses sistemas, os quais estão sendo constantemente estudados nos últimos anos, inclusive pelo nosso grupo de pesquisa. Isso se deve ao fato de que a energia originada em biocélulas a combustíveis podem ser maximizadas, aumentando assim sua capacidade em produzir maiores quantidades de energia. Assim, o Grupo de Bioeletroquímica da USP, sob coordenação do Prof. Dr. Frank Nelson Crespilho, tem estudado a construção de sistemas biomiméticos aplicados a reações de oxidação e redução similares as enzimas. Enzimas artificiais são produzidas a partir de nanopartículas híbridas (orgânicas/inorgânicas) e aplicadas em protótipos para a geração de energia, simulando processos biológicos naturais.
Biomimética é a ciência que estuda e imita os métodos, mecanismos e os processos que ocorrem naturalmente. No caso de sistemas enzimáticos naturais, o desenvolvimento de (nano)estruturas biomiméticas capaz de imitar as propriedades funcionais da biomoléculas continua a ser um desafio para os pesquisadores. Muitos estudos envolvendo enzimas naturais reportam uma excelente sensibilidade e alta seletividade frente a seus substratos específicos. Porém, a estabilidade e condições do meio do qual as enzimas são inseridas em uma biocélula a combustível são prejudicadas, inviabilizando a exploração da perfomance catalítica dos seus cofatores redox. Em virtude desses e de outros problemas, a produção de  enzimas sintéticas torna-se uma estratégia inerentemente atraente por apresentar vantagens, como baixo custo de obtenção, elevada atividade redox em eletrólitos não naturais, entre outras. Recentemente, nosso grupo publicou um artigo na revista Electrochemistry Communication mostrando a potencialidade de aplicação de um sistema biomimético em cátodos de biocélulas a combustível. Nesse trabalho, mostrou-se a alta atividade catalítica para reduzir peróxido de hidrogênio, utilizando uma enzima artificial. Esta enzima foi sintetizada a partir de um nanocompósito constituído por nanoestruturas de óxi-hidróxidos de ferro (III) e o polímero polidialidimetilamônio.
Além do desenvolvimento de sistemas biomiméticos, nosso Grupo também tem direcionado seus trabalhos em estudos eletroquímicos de interação entre enzimas e nanopartículas metálicas e de óxidos magnéticos, visando a criação de uma interface eletroativa entre cofatores enzimáticos e superfícies eletródicas aplicáveis em biocélulas combustíveis, onde processos de transporte e transferência de carga podem ser maximizados, possibilitando uma maior obtenção de eletricidade.
Nosso Grupo também tem desenvolvido vários protótipos de biocélulas a combustível. Estas possuem um formato retangular visando um maior controle do volume do compartimento e pode funcionar como uma bio-bateria, na presença e na ausência de uma membrana trocadora de prótons, permitindo uma análise mais detalhada dos processos eletroquímicos envolvidos na geração de energia. Um novo protótipo de tamanho menor e com capacidade de ser implantado para análise in vivo está fase de desenvolvimento.

Pesquisadores envolvidos:

1) Prof. Dr. Frank Nelson Crespilho (Coordenador).
2) Rodrigo M. Iost.  Bolsista:  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
4) Roberto Aves de Sousa Luz.  Bolsista: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
5) Marccus Victor Almeida Martins. . Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
  
Publicação:

Martins, Marccus Victor Almeida; Bonfim, Clarissa; Silva, Welter Cantanhêde; Crespilho, Frank Nelson. Iron (III) nanocomposites for enzyme-less biomimetic cathode: A promising material for use in biofuel cells. Electrochemistry Communications, v. 12, p. 1509-1512, 2010.

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Criado o novo Blog voltado a divulgação científica

Ciência e tecnologia a serviço da sociedade. Esse é novo Blog voltado a divulgação científica.
Laboratório de BioEletroquímica da Universidade de São Paulo (USP).